domingo, 10 de julho de 2011

Entendendo A Ética Cristã - Parte 2


PRINCÍPIOS DA ÉTICA CRISTÃ: (1Coríntios 10.32) 

O modo de pensar e de agir, com base na ética cristã, tem amplo respaldo na Bíblia Sagrada. E dá lugar à definição de alguns princípios ou parâmetros éticos, que são bem claros e objetivos. Estes são diferentes dos princípios da sociedade sem Deus, os quais são inconsistentes, variáveis, e acima de tudo relativísticos. Até mesmo as leis, que deveriam servir de fundamento para conduta do indivíduo, variam conforme o tempo, a época, os costumes, as inovações e tudo o que mudar no meio social.

a) O PRINCÍPIO DA FÉ
Paulo, o apóstolo dos gentios, dizia: “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que há de ser feito é pecado.” (Romanos 14.22,23) Neste texto, vê-se a ênfase na fé ou na convicção do crente diante de Deus, quanto ao que ele faz ou deixa de fazer. Ele não precisa recorrer a paradigmas humanos ou lógicos para posicionar-se quanto a atos ou palavras.

b) O PRINCÍPIO DA LICITUDE E DA CONVENIÊNCIA
Esse critério orienta o cristão a que não faça coisa apenas porque são lícitas, mas porque são lícitas e convém, à luz do referencial ético que é a Palavra de Deus. Primeiro, diante de uma atitude ou decisão a tomar, é preciso indagar se tal comportamento está de acordo com a Palavra de Deus, se tem apoio nas Escrituras. Segundo, mesmo que seja lícito, se convém. Conveniência e oportunidade devem juntar-se à licitude na aprovação ou não de uma atitude cristã.
Não se deve brincar de ser crente, pois diz a Bíblia: “Não erreis, Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6.7)
Conforme este princípio, o cristão deve indagar: “O que desejo fazer é lícito? Convém fazer, segundo a Palavra de Deus? Se a resposta for positiva, diante da Bíblia, pode ser feito. Se não, deve ser rejeitado. O que é lícito e conveniente não fere outros princípios bíblicos.

c) O PRINCÍPIO DA LICITUDE E DA EDIFICAÇÃO
Não basta que alguma conduta ou proceder seja lícito, mas é preciso que contribua para a edificação do cristão. É um princípio irmão gêmeo do anterior. A ênfase aqui é na edificação espiritual de quem deve posicionar-se ante o que fazer ou não fazer algo. A licitude sem edificação espiritual só pode levar o crente à frieza e ao desvio.
A questão a ser posta, segundo este princípio é: “O que quero fazer é lícito? Se é lícito, tal coisa contribui para minha edificação e dos que estão a minha volta?”. A resposta tem que ser confrontada com o referencial ético, que é a Palavra de Deus. Se for positiva, a ação deve ser realizada. Se não, deixada de lado.
 
d) O PRINCÍPIO DA GLORIFICAÇÃO A DEUS
Aqui temos um princípio ético abrangente, que inclui não só o comer e o beber, mas “qualquer coisa” que demande um posicionamento cristão. No dia-a-dia, o cristão sempre se depara com situações, às vezes triviais, que exigem uma tomada de posição.
Este princípio da glorificação a Deus é fundamental em momentos cruciais do comportamento cristão.
A indagação que o cristão deve fazer, com base neste princípio, é: “O que devo fazer ou dizer contribui para a glorificação a Deus?”. Se a resposta for afirmativa, pelo Espírito Santo, a ação ou atitude pode ser executada. Se for negativa, é melhor que seja rejeitada. O que contribui para a glória de Deus não fere nenhum princípio bíblico.

e) O PRINCÍPIO DA AÇÃO EM NOME DE JESUS (Colossenses 3.1)
Ao se despedir dos discípulos, nosso Senhor Jesus Cristo incumbiu-lhes da chamada Grande Comissão, segundo a qual deveriam sair por todo o mundo a pregar o Evangelho a toda criatura, asseverando que sua mensagem não seria a neutralidade, mas que seriam salvos os que aceitassem, e condenados, os que a rejeitassem. O Evangelho é por natureza contrário ao modus vivendi do homem moderno em todos os tempos. Diante disso, o mestre deu-lhes a garantia de que teriam autoridade para realizar a missão, com sinais e prodígios, em seu nome. (Marcos 16.17,18)
A condição do crente para realizar ou deixar de realizar algo, decorre da autoridade que lhe foi conferida pelo nome de Jesus.
O teste a ser feito, diante da decisão a tomar, é: “Posso fazer isso em nome de Jesus?”. Se a resposta, pelo Espírito Santo, se for assim, é lícito e convém. Se não, não deve ser feito ou dito, pois não é lícito nem convém. Os princípios éticos não se excluem, mas se somam para fortalecer a decisão a ser tomada.

f) O PRINCÍPIO DO FAZER PARA O SENHOR (Colossenses 3.23) 
Na vida cristã, surgem verdadeiras armadilhas, como testes para a fé e a convicção do servo de Deus.
O apóstolo Paulo asseverou: “Porque persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gálatas 1.10)
Essa é a questão: Diante de uma atitude, de uma decisão, devemos indagar: “Estamos agradando a Deus ou aos homens? Estamos fazendo, de todo o coração ao Senhor?”. A resposta deve ser honesta, consulando não o coração, mas a Palavra de Deus.

g) O PRINCÍPIO DO RESPEITO AO IRMÃO MAIS FRACO (Colossenses 8.9-13)
O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, enfatiza o cuidado que se deve ter como cristão, para respeitar a consciência do irmão. O texto de Romanos 14.13-20 bem esforça esse entendimento ético. O apóstolo diz que é “bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova”.
Podemos responder que a consciência, ou o coração do homem, não é referencial seguro para a tomada de decisões, pois é enganoso e perverso, sem dúvida por causa do pecado original, que prejudicou a maneira de pensar de todo o homem.
Assim, no caso do crente que resolve arriscar a sorte em jogos de azar, pode até      conformar-se com sua maneira de pensar, com sua consciência, ou seu coração. Entretanto, o referencial seguro, imutável e infalível não é a consciência humana, mas a consciência de Deus, expressa em sua maravilhosa Palavra, a Bíblia Sagrada.
Desse modo, a questão, segundo o princípio da certeza é: “O que pretendo fazer, o faço com certeza de fé? E essa certeza é fundamentada na Palavra de Deus? Tem respaldo na Bíblia? Não é apenas fruto de minha consciência falha, ou do meu coração enganoso?” (Jeremias 17.9) Se a resposta for positiva, com base na Bíblia, pode ser realizado. Se não, deve ser evitado.
 
h) O PRINCÍPIO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS  (Romanos 14.10-12)
Na vida empresarial, na vida administrativa e financeira ou na vida contábil, a prestação de contas é coisa rotineira. Não pode deixar de existir, sob pena de todos os projetos serem levados ao fracasso. Porém, falar em prestação de contas na vida espiritual parece algo estranho e irreal, fora de propósito. Mas só para quem não conhece os princípios elementares dos evangelhos e da Bíblia em geral.
Jesus, em seu ministério terreno, chamou a atenção para a prestação de contas, por ocasião de sua vinda em glória (Mateus 16.27). Obras falam de atitude, de comportamento, de ação. Em termos da ética cristã, não há dúvida de que cada pessoa prestará contas a Deus, no seu tribunal divino, do que fizer ou deixar de fazer, isso em relação à prestação de contas futura, em termos escatológicos. Entretanto, aqui mesmo, nesta vida, há muitos de quem Deus tem cobrado a prestação de contas antecipadamente por causa de seus atos pecaminosos, e há, também, aqueles a quem o Senhor tem galardoado por suas obras ou atitudes.
Diz a Bíblia em: Gálatas 6.7-10, esse texto resume, no versículo 7, “a lei da semeadura e da sega”, segundo a qual, aquilo que o homem plantar, isso ele colherá. O princípio da prestação de contas nos lembra que, no trato com as pessoas ou com as coisas, não só devemos observar a Palavra de Deus, mas adverte-nos quanto à inevitável prestação de contas no futuro, e também aqui, no presente.
A pergunta a ser feita deve ser: “O que pretendo fazer me trará quais consequências, aqui, neste mundo, e o que poderá me reservar o futuro, segundo a Palavra de Deus?”. Se as consequências, segundo a Bíblia, serão boas, não há o que temer. Se, porém, serão más, quaisquer atitudes devem ser rejeitadas.

i) O PRINCÍPIO DO EVITAR A PARÊNCIA DO MAL (1Tessalonicenses 5.22)
Ser cristão verdadeiro não é nada fácil num mundo em que os valores morais estão relativizados. Não basta evitar o mal, é preciso evitar também a aparência do mal.
O perigo em desrespeitar esse princípio reside no fato de se correr o risco de alguém, imprudentemente, possa confundir a atitude de um servo ou serva de Deus, espalhando boatos inverídicos.
O que se dever perguntar é: “O que penso em fazer ou dizer pode dar a aparência do mal?”. Se a resposta for positiva, é melhor evitar o que se tem mente. Se for negativa, pode ser feito, mas levando-se em conta os outros princípios da ética cristã citados.
  
A ÉTICA CRISTÃ E OS DEZ MANDAMENTOS: (Mateus 5.17,18)

O cristão, no período da dispensação da graça, não está de modo algum sujeito ao cumprimento dos rituais da lei mosaica, mas deve viver pela lei de Cristo. Esta, de modo algum destrói a lei antiga, mas deu-lhe uma nova dimensão. Jesus declarou, enfaticamente, no Sermão do Monte, que não veio descumprir a Lei e, sim, para cumpri-la, e o fez, de força superior ao que era praticado na antiga aliança. Assim podemos dizer que a ética cristã tem por base o decálogo, no que concerne ao seu aspecto espiritual e moral, e levada a efeito com base no amor e na graça de Deus. A ética dos dez mandamentos dá suporte à ética cristã, de modo marcante e aperfeiçoado por Cristo.

a) JESUS VALORIZOU OS DEZ MANDAMENTOS (Mateus 19.16)
Na época cristã, o que importa não é só o não fazer, mas praticar o que é justo ereto, com base no amor, de acordo com a vontade Deus. Aqui vemos uma ponte entre a ética do Antigo Testamento e a ética cristã.A expressão máxima da Lei era o decálogo. No Sermão da Montanha, Jesus foi categórico, ao afirmar que não veio para revogar a Lei, mas para cumpri-la. De modo incisivo, Ele afirmou que não veio para destruir a Lei, mas para cumpri-la (Mateus 5.17). Com tal expressão, Ele quis mostrar que, não obstante ter trazido uma nova aliança, o essencial do decálogo não estava abrogado. Tão somente, Ele trouxe uma nova maneira de cumprir a Lei, valorizando o interior, muito mais do que o exterior. Tal entendimento é fundamental para a consciência e solidez da ética cristã.

b) JESUS APROFUNDOU O CUMPRIMENTO DO DECÁLOGO
Se alguém pensar que a ética cristã é menos rigorosa que a ética do Antigo Testamento, codificada na Lei de Moisés, está enganado. O ensino de Jesus era tão marcante na mente dos ouvintes que “maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas.” (Marcos 1.22) O Senhor, por sua vez, quis mostrar que para Ele e para Deus, o mais importante é o que se passa dentro do coração dos homens (Marcos 7.18-23).

c) SOBRE O SEXTO MANDAMENTO
1.    Não matarás - Êxodo 20.13
O sexto mandamento da Lei de Moisés proibia tirar a vida de uma pessoa. Em Mateus 5.21, Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo”.
Jesus, apresentando sua ética, disse: “Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do sinédrio, e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno.” (Mateus 5.22) Na ética de Cristo, a prevenção é mais importante que a correção. Ele condena não apenas o ato de matar, mas as causas prováveis do crime: a ira ou cólera, a agressão verbal, entre outras. No Antigo Testamento, só era condenado quem matasse. No Novo Testamento, é condenado quem se encoleriza ou maltrata seu irmão. A reconciliação é o remédio para a ira.

d) SOBRE O SÉTIMO MANDAMENTO
1.    Não adulterarás - Êxodo 20.14; Deuteronômio 5.18
O sétimo mandamento visava valorizar e proteger a família e o casamento, livrando-o dos efeitos da infidelidade conjugal, bem como defender a pureza sexual. A prática pecaminosa do sexo jamais foi legitimada como profissão ou atividade lícita. Desde o Antigo até o Novo Testamento, a infidelidade, a impureza, a lascívia, o homossexualismo e outras práticas dessa natureza, sempre tiveram a mais veemente reprovação de Deus.
Na Lei, estava escrito: “Ouviste o que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.” (Mateus 5.27) O adultério só era realmente condenado, se fosse realizado o ato sexual, mediante a conjunção carnal. Não havia uma regra escrita, de modo claro e inconfundível, quanto aos pensamentos lascivos, sensuais, pecaminosos, em relação à prática sexual. Diante disso, Jesus ensinou, afirmando de maneira explicita quanto ao aspecto interior e espiritual em relação à infidelidade, mesmo que esta não se materializasse uma união ilícita, num ato sexual concreto, ao dizer: “Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela.” (Mateus 5.28) Cristo não apenas condena o ato, mas os pensamentos impuros, as fantasias sexuais, envolvendo uma pessoa que não é o cônjuge do transgressor. É condenado o “adultério mental”. O décimo mandamento reforça essa idéia (Êxodo 20.17; Deuteronômio 5.21).

e) SOBRE O DIVÓRCIO
Segundo o que preceitua a Lei, em Deuteronômio 24.1-9, o homem podia desquitar-se ou divorciar-se de sua esposa por motivos os mais variados, mesmo que não houvesse infidelidade. Com base nesse texto, Jesus ensinou: “Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite.” (Mateus 5.31) O Mestre em seu Sermão, explicou: (Mt 5.32). Na Lei, o homem podia deixar sua mulher “por qualquer motivo” (Mateus 19.3. Na Lei de Cristo, só a infidelidade (sob diversas formas) justifica a separação.
 
f) SOBRE NÃO TOMAR O NOME DO SENHOR EM VÃO
O terceiro mandamento (Êxodo 20.7; Levítico 19.12) proibia o homem jurar falsamente em nome do Senhor. Jesus baseou-se nesses textos para dizer: “Outrossim, ouviste que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor.” (Mateus 5.33) Em seguida, apresentando sua doutrina, Ele ensinou: Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei, nem jurarás para tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim, não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna." (Mateus 5.34-37)

g) SOBRE O OLHO POR OLHO E DENTE POR DENTE (Êxodo 21.23-25)
Fazendo uso desse texto, Jesus ensinou: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.” (Mateus 5.3) Era a “pena de Talião”, que funcionava de modo implacável nos tempos do Antigo Testamento. Trazendo nova visão e nova maneira de ver a questão, Jesus ensinou: Mateus 5.39-41. No Novo Testamento, a conduta cristã é mais difícil que a exigida no Antigo. Dar a outra face a quem lhe bater, mesmo no sentido figurado, não é comportamento comum ou fácil de praticar, mesmo pelo mais santo dos crentes. Só com a graça de Deus e o poder do Espírito Santo é possível cumprir, mesmo de modo figurado, esse preceito ético.

h) SOBRE A ÉTICA DO AMOR - A Lei mandava amar o próximo (Levítico 19.18b)
Ensinando sobre o amor, Jesus disse: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.” (Mateus 5.43) O amor, na visão de Cristo, não é algo apenas romântico, quimérico, fantasioso. É um sentimento que demanda sólido fundamento nos principais cristãos. Só podem praticar o verdadeiro amor aqueles que são dominados pelo poder de Deus, na direção e unção do Espírito Santo.
Se Deus ama a todos (João 3.16), devemos fazê-lo também, para sermos seus filhos . Isso prova que os princípios espirituais e morais do decálogo se encontram com as leis do reino de Cristo, expostas no Sermão do Monte. Jesus deu aos mandamentos um sentido muito mais elevado, tornando-os instrumentos da justiça e do amor de Deus.
(...)
(Continua na Parte 3)


 
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